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4 de agosto de 2021
A primeira rede social da humanidade funcionava em grupos de humanos nômades, que se comunicavam entre si, ainda em linguagem precária, para resolver os problemas de então, como evitar predadores e conseguir alimento. Essa teria sido, digamos, a “programação original” do cérebro homo sapiens para a comunicação.
Pesquisadores de comportamento coletivo da Universidade de Washington olharam para as redes sociais de hoje, fragmentadas — com usuários em diferentes partes do mundo em uma mesma conversa– e frenéticas, e viram um grande problema: essa torre de Babel pode levar nossa sociedade ao “tilt”, ou seja, ao colapso.
Sem apontar um fim próximo, o que os cientistas americanos se esforçam em deixar claro é que o cenário é ruim, similar ao de uma rota de colisão social. Num século onde a desinformação ameaça a democracia em vários continentes, e onde a verdade e a privacidade se perdem, onde vamos parar?
Para os cientistas, os problemas atuais são conhecidos, a mudança climática e a pandemia são grandes exemplos. Porém, como ressalta o estudo, “ainda permanece desconhecido se a dinâmica social humana produzirá tais respostas [para estes males]”. E tem mais: “Além de ameaças ecológicas e climáticas, as dinâmicas sociais humanas apresentam outros desafios ao bem-estar individual e coletivo, como a recusa às vacinas, adulteração de eleições, doenças, extremismo, fome, racismo e guerras.”
As redes sociais, segundo a pesquisa, têm um papel importante nessa caminhada. Estruturas construídas para buscar o lucro, elas são hoje ambientes que atuam em escala massiva e com regulamento opaco, além de serem o retrato de uma espécie de estresse na comunicação entre as pessoas.
Um obstáculo considerável, porém, é analisar uma crise em que ninguém consegue ver a imagem completa, apenas fragmentos de uma grande desordem na psique coletiva.
“Não temos a capacidade de prever como as tecnologias de hoje irão impactar os padrões globais de crenças e comportamento amanhã. A previsão confiável de sistemas sociais está entre os desafios mais elusivos da ciência”, ponderam os pesquisadores.
Outra questão que se coloca é a diferença brutal de velocidade dos meios online e offline. O primeiro é onde ocorre a desinformação e a consequente desorientação da população, e o segundo, onde parlamentares discutem novas leis para regular a internet e as redes sociais.
A resposta para esse dilema das redes pode estar nos dados que elas mesmo produzem. “Experimentos online permitem um estudo detalhado de indivíduos interagindo em redes sociais”, afirmam os pesquisadores, sem deixar de destacar que o bom senso, essa ferramenta humana tão antiga, é motor central para sincronizar o descompasso entre os mundos virtual e real.
Em seminário neste último mês de abril, o MIT (Massachusets Institute of Technology) procurou se aprofundar no futuro das redes sociais e da informação. Na publicação final, foram elencadas 25 sugestões para solucionar a “encruzilhada das redes sociais”. Veja aqui um resumo do evento.
As recomendações passam por uma colaboração maior das empresas donas das redes com a ciência, abrindo dados para pesquisa — algo difícil em se tratando de corporações privadas que têm nos dados a sua galinha dos ovos de ouro.
Os palestrantes do evento ressaltam também a necessidade de uma ofensiva sobre disseminadores de fake news na internet, com punições em todos os níveis, para cidadãos e empresas coniventes com a desinformação, além de novos impostos sobre propaganda programática, para dificultar a divulgação em massa de informação enganosa.
A regulação das grandes corporações da tecnologia vem avançando, mas não sem muita briga. Recentemente os órgãos de controle da França aplicaram uma multa de € 500 milhões ao Google, que resiste a pagar à imprensa pelo conteúdo jornalístico que a plataforma exibe em produtos como o Showcase.
Confira a matéria no MediaTalks.
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