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7 de outubro de 2021
Nunca, desde as revoluções industriais, a exploração alcançou níveis tão torpes
Por Eugênio Bucci, jornalista e professor da ECA-USP
Para Mark Zuckerberg, dono do Facebook, do Instagram e do WhatsApp, esta foi uma semana dos infernos. Na segunda-feira, uma pane tecnológica tirou do ar as três plataformas, no mundo inteiro, por um período de mais ou menos sete horas. No Brasil, a instabilidade começou no horário do almoço. Pequenas empresas, como restaurantes e oficinas de assistência técnica, que recebem pedidos pelo WhatsApp, tiveram de parar suas operações. Muita gente não tinha como trabalhar.
Assim foi para bilhões de pessoas. Isso mesmo: bilhões. Estima-se que 2 bilhões de seres humanos, diariamente, batem ponto – na verdade, batem o ponto centenas de vezes por dia – nos terminais do que os íntimos chamam de Face, Insta e Zap. Dois bilhões de almas. Muitas dessas almas não sabem ficar sem clicar nos ícones de Mark Zuckerberg. São viciadas. Algumas tiveram surtos de ansiedade. Foi uma segunda-feira nervosa. As ações do império despencaram algo como 5% na Nasdaq, em Nova York.
Para completar a semana infernal, outra hecatombe, essa mais persistente, sacudiu as bases da credibilidade do Facebook. Uma ex-funcionária graduada, Frances Haugen, que já vinha denunciando anonimamente os desmandos da companhia, mostrou a cara, deu entrevistas e, na terça-feira, depôs numa audiência no Senado dos Estados Unidos. Segundo as denúncias, a empresa teria ignorado alertas graves, como o de que os aplicativos eram usados para o tráfico de pessoas ou de órgãos humanos, ou de que a tirania de modelo de beleza no Instagram provocaria depressão e mesmo suicídio entre adolescentes. Há também a acusação de que Zuckerberg lucra com a polarização do debate público e, por isso, faz corpo mole quando se trata de moderar o fluxo de mensagens de ódio ou de desinformação deliberada nas redes.
O que fazer agora? Como conter o império? Para responder a essa pergunta Frances Haugen sustenta que o Facebook seja “regulado” por marcos legais.
É claro que as histórias apresentadas por ela precisam ainda ser apuradas. O Facebook, de sua parte, nega todas, de forma que, nesse quesito, ainda estamos longe de uma conclusão. Mas quando fala em regular o mercado, a ex-funcionária tem razão. Com ou sem práticas deletérias, abjetas ou condenáveis, o grau de monopólio alcançado por esse conglomerado vai se revelando incompatível com o regime de livre mercado. Onde existe tamanha concentração de capital, de tecnologia e de poder não pode haver livre concorrência, como é óbvio, e quando surge esse tipo de distorção, só dispositivos reguladores democráticos podem dar jeito.
Tanto isso é verdade que, desde a primeira metade do século 20, nos Estados Unidos, as leis antitruste vieram para quebrar monopólios e assegurar a competição entre empresas rivais, em diferentes setores da economia. Logo, não há nada de novo em pretender que marcos regulatórios imponham limites ao gigantismo monopolista.
E não estamos falando aqui de qualquer gigantismo. As cinco big techs dos Estados Unidos – Amazon, Facebook, Apple, Microsoft e Google – alcançaram, juntas, no final de julho, o preço de US$ 9,3 trilhões. O faturamento anual líquido das cinco ultrapassa os US$ 200 bilhões. São cifras assombrosas, inéditas na história do capitalismo, que não param de subir.
Confira o artigo no O Estado de S. Paulo.
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