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17 de agosto de 2023
Entre as diversas transformações trazidas pela pandemia de Covid-19, a discussão a respeito do modelo de trabalho ideal tem sido uma das mais recorrentes.
Passado o período em que sair as ruas era uma proibição, as empresas tiveram de lidar com o desafio de pensar em como reocupar os escritórios de forma eficaz.
Assim que as atividades econômicas foram retomadas, após as fases mais árduas da Covid-19, o discurso predominante no universo corporativo era de que o modelo flexível de trabalho viria para ficar.
As empresas pareciam ter descoberto que era possível manter a produtividade e economizar custos com as equipes trabalhando de casa parte do tempo.
Alguns movimentos recentes, contudo, mostram que essa ideia parece não ter ganhado tanta adesão quanto as projeções indicavam. Big techs e empresas de tecnologia começaram a mudar suas regras, estabelecendo dias fixos para que os funcionários compareçam presencialmente às empresas.
Na semana passada, o Zoom, empresa que cresceu, justamente, alicerçada na necessidade de se estabelecer conexões à distância, comunicou que os funcionários dos Estados Unidos que residam a até 80 km do escritório comparecem na empresa, no mínimo, duas vezes por semana. Antes, todos trabalhavam de forma remota.
Desde o arrefecimento da pandemia, a questão do modelo de trabalho vem sendo constantemente debatida pelas agências de publicidade. Na maioria dos casos, as grandes agências optaram pelo modelo híbrido, em que os funcionários comparecem aos escritórios determinados dias na semana, enquanto exercem suas atividades de casa em outros.
Há alguns dias, contudo, uma movimentação feita pelo Publicis Groupe, nos Estados Unidos, apontou que a questão pode não estar totalmente resolvida.
No país, a holding determinou que todos os funcionários de suas agências digitais compareçam aos escritórios por, no mínimo, três vezes na semana. O que mais chamou a atenção, contudo, foram as eventuais punições para quem não cumprir a regra, que começa a valer em setembro: exclusão dos programas de bonificação e eventuais prejuízos em possíveis promoções ou mudanças de cargo.
No Brasil, por enquanto, essa diretriz do Publicis Groupe ainda não chegou. À reportagem de Meio & Mensagem, a chief talent officer (CTO) do grupo no País, Camila Dantas, disse que o regime de trabalho local varia de acordo com as necessidades das agências e dos times e que não há uma prática única de trabalho, que seja adotada por todas as agências.
Camila diz que, atualmente, mais de 60% dos colaboradores do Publicis Groupe no Brasil comparecem ao escritório por cerca de 50% do tempo. Ela reforça que a obrigatoriedade do retorno foi uma orientação exclusiva para o mercado dos Estados Unidos, mas não descarta que isso possa se tornar uma diretriz global no futuro.
Nas demais holdings de agências de publicidade consultadas pela reportagem, o modelo híbrido, em que funcionários alternam entre idas ao escritório e trabalho em casa, prevalece.
E, na maior parte das agências que fazem parte de grandes holdings de comunicação, não existe uma diretriz global, válida a todos os mercados, que determine as regras de trabalho.
A exceção, ao menos por enquanto, é do Interpublic Group. O grupo definiu, durante a pandemia, que o modelo híbrido seria adotado globalmente.
A WMcCann, que faz parte do IPG, segue a diretriz. Os times da agência que atendem aos clientes vão à sede duas vezes na semana, de forma intercalada.
“Entendemos que esse formato une a flexibilidade demandada pelos colaboradores às necessidades reais do nosso negócio, equalizando os benefícios e os desafios dos modelos remoto e 100% presencial”, comenta Paula Molina, diretora de Recursos Humanos da WMcCann.
O grupo Omnicom, por sua vez, definiu algumas diretrizes globais, mas dá a cada país autonomia para fazerem adaptações, de acordo com sua realidade.
A Lew’Lara\TBWA, por exemplo, estabeleceu o modelo híbrido desde março de 2022 e não pensa em mudar a regra, por acreditar que ela atende às necessidades das pessoas, da agência e dos clientes, além de contribuir com a mobilidade urbana e com as novas demandas emocionais, individuais e familiares dos colaboradores, como explica Elise Passamani, VP de cultura e operações da agência.
“Nossa intenção é manter o modelo híbrido de 2 dias fixos na agência para garantir a integração; 2 dias home office e 1 dia flexível, para garantir o conforto e a flexibilidade experienciados na pandemia”, diz a VP da Lew’Lara\TBWA.
A Dentsu, outra das grandes holdings de comunicação, também defende o modelo híbrido de trabalho. Diretor de recursos humanos da Dentsu Creative, Denis Massani pondera que, no atual modelo, a periodicidade é discutida com as lideranças.
Algumas funções de trabalho ou ferramentas específicas, segundo ele, podem exigir que algumas pessoas passem mais tempo no escritório do que outras. “Nosso modelo de trabalho é híbrido e não tem obrigatoriedade de dias, entretanto esperamos, quando possível, que as pessoas tenham uma semana mista, passando algum tempo no escritório e algum tempo trabalhando anywhere office”, explica.
A Stagwell também é outro grupo de agências que permitiu que cada mercado estabelecesse suas próprias regras de trabalho, sem estipular nenhum formato.
Na CP+B, por exemplo, os funcionários trabalham dois dias por semana no escritório e três dias em home-office.
No grupo WPP, um retorno compulsório aos escritórios não chegou a ser cogitado. O modelo de trabalho é sempre discutido em âmbito global como nas redes que compõem a holding, como a VMLY&R.
Na operação brasileira da agência, desde o fim da pandemia, os gestores foram incentivados a organizar eventos na sede da companhia para que o retorno ao modelo híbrido acontecesse de forma natural. “. Em paralelo, criamos um comitê de cultura que discute semanalmente formas de fazer com que as pessoas desenvolvam esse sentido de pertencimento tão importante em relação ao local onde trabalham”, conta Jaqueline Travaglin, chief operating officer da VMLY&R.
Como resultado dessa prática, segundo ela, mais de 80% dos funcionários da agência comparecem ao escritório de terça-feira à quinta-feira. Às segundas-feiras, esse índice de comparecimento fica em 50%, enquanto às sextas-feiras, o home office é a prioridade.
Confira matéria no Meio e Mensagem
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