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17 de novembro de 2021
Equipes com maior diversidade trazem melhores soluções para os problemas empresariais
Estes dias, Lloyd Campbell, membro do board da Spencer Stuart – uma das maiores empresas mundiais no segmento de executive search e consultoria para lideranças empresariais – publicou artigo sobre a formação dos conselhos de administração das grandes empresas nos EUA (bit.ly/3GRtHwI).
Alguns bons números me chamaram a atenção. O estudo mostra, por exemplo, que 47% dos novos entrantes nos conselhos são de grupos étnicos que historicamente eram pouco representados, como afroamericanos, asiáticos, hispanos-latinos e outros – segundo definição deles.
Hoje, no mercado americano, um terço (33%) de todos os conselheiros independentes são afroamericanos – o triplo de 2020 (apenas um ano antes), e maior número desde 2008, início do estudo.
Outro número que representa uma boa notícia, pelo menos nos EUA, é que dos novos entrantes, 43% são mulheres. E 30% dos conselheiros independentes de todas as S&P 500 hoje são mulheres – praticamente o dobro da representação de uma década atrás. E mais: 193 empresas (39% das S&P 500) afirmam que diversidade é um dos pontos-chave para considerar novos membros para seus conselhos.
Mas o que mais me chamou a atenção foi o comentário de Campbell, mesmo após citar todos esses bons números: “Os conselhos fizeram um real progresso, mas ainda há muito trabalho a fazer”.
E no Brasil? Qual o tamanho do trabalho ainda por fazer na formação e na atuação dos conselhos das empresas?
Especialmente hoje, quando tantos falam em ESG, fica a pergunta: na real, o que está sendo mudado na formação desses conselhos de administração para promover de verdade essas três letrinhas (o E, o S e o G)?
Pois bem, um estudo feito no final de 2020 mostra números bem diferentes no mercado brasileiro se comparados a outros mercados.
Veja bem: não é um estudo pequeno. Foram estudados conselhos de 190 empresas listadas na Bolsa e 143 empresas do Novo Mercado. Um total de 1.598 posições de conselho.
A primeira ducha fria: no Brasil, apenas 11,5% das vagas de conselho são preenchidas por mulheres. Um dos índices mais baixos entre 20 países estudados. Temos 1 mulher para cada 7,4 homens atuando em conselhos de administração.
Outra dura realidade: os conselheiros independentes – tão necessários para a inovação e para o frescor nas decisões nas empresas – são absoluta minoria no mercado brasileiro. Média de 3,5 conselheiros independentes por board; nos EUA e Canadá esse número passa de nove.
No quesito avaliação externa da atuação do conselho, o Brasil tem um dos índices mais baixos do mundo: apenas 9% das empresas fazem essa avaliação. No Reino Unido e na Itália, 40% dos conselhos de administração passam por esse crivo externo.
A sensação de que estamos muito atrás na formação dos conselhos se cristaliza quando vamos para outro tipo de diversidade entre os membros: a diversidade profissional/formação acadêmica.
Senão, vejamos: segundo esse estudo, no Brasil, 30% dos conselheiros são engenheiros, 24% são administradores de empresas, 17% são economistas e 13% advogados.
Na outra ponta da tabela, caindo para a segunda divisão – como dizemos no futebol – estão psicologia (1%) e publicidade (1%).
Aí fica a clara sensação de que, pelo menos no Brasil, os conselhos ainda guiam suas decisões olhando apenas para números e planilhas (e nada contra eles), mas ignorando totalmente os soft skills que podem ajudar a entender aqueles que as empresas mais precisam: seus colaboradores e seus consumidores.
Fica a sensação de que os conselhos das empresas passam a maior parte do tempo olhando para dentro da corporação (vulgo “próprio umbigo”) e dedicando quase nenhum esforço a entender o mundo fora das salas de reuniões.
O maior contrassenso dessa situação é quando vemos tantas empresas falando de seus “hercúleos” esforços em direção ao ESG. Seriam tão “hercúleos” assim?
Confira comigo, letra por letra. No Environment, claro, é preciso muita orientação técnica para se conseguir o uso racional de recursos, preservar biodiversidade, zerar desperdícios. Mas, acima de tudo, é necessário consciência empresarial e vontade política. Ambos são quesitos que transcendem as planilhas de resultados e exigem outro tipo de olhar para a atuação das empresas.
Na definição do S de Social, está claro que várias missões exigem que profissionais diferenciados sejam envolvidos nas decisões. Melhorar as relações de trabalho, estimular políticas de inclusão e diversidade, criar impacto positivo na comunidade. Tudo isso demanda conselheiros capazes de ouvir e entender desejos e sonhos das pessoas. E traduzir esses desejos em ações. Além disso, o S de Social significa também promover impacto positivo na comunidade onde atua. O que se viu durante a pandemia foi algo que deveria ficar marcado para sempre na lembrança de todos: não existe empresa saudável numa sociedade doente.
Já no G, de Governança, entre os maiores objetivos estão manter a independência do conselho e garantir diversidade na escolha dos seus membros. E leia-se essa palavra “diversidade” em toda sua amplitude: etária, de gênero, de raça e, também, de formação profissional.
Não porque é politicamente correto, mas sim porque é muito, mas muito mais produtivo para as empresas. Várias pesquisas internacionais comprovam que equipes mais diversas trazem melhores soluções para os problemas empresariais.
Um conselho de administração deve impulsionar a empresa para um futuro de sucesso sustentável – e não se limitar a ser uma entidade que simplesmente ajuda a olhar pelo retrovisor, através dos números e planilhas.
Será que nossas empresas estão se movimentando na direção correta? Talvez sim.
Mas os números desse estudo de 2020 mostram que ainda estamos longe, bem longe de outros mercados.
Artigo Mario D’ Andrea, presidente da Abap no jornal Valor Econômico
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