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O horário eleitoral morreu. Vida longa ao horário eleitoral!

Fonte: Propmark

9 de setembro de 2022

O horário eleitoral gratuito na TV e no rádio começou e, com ele, voltou uma antiga discussão: é possível que com tantas opções de entretenimento a propaganda política consiga mudar o rumo de uma eleição?

A dúvida se justifica. Em 2018, Geraldo Alckmin, candidato com maior tempo de TV (11 minutos), terminou em quarto lugar, com menos de 5% dos votos. O vencedor, Jair Bolsonaro, tinha 16 segundos e angariou 46% dos votos válidos.

Mesmo assim, o que se viu entre os partidos agora foi um enorme esforço para formar alianças que poderiam justamente render alguns segundos a mais na TV e no rádio. Por quê?

Há algumas hipóteses para isso.

A mais lembrada é a de que é falso dizer que Bolsonaro não teve tempo em rede nacional. A facada em Juiz de Fora garantiu ao então candidato espaço muito mais amplo e valioso nos principais jornais do que ele poderia ter de outra forma.

A outra hipótese, menos lembrada, é a de que o horário eleitoral possui limites que ultrapassam as mudanças tecnológicas. No distante ano de 1989, ainda sem celular e internet e quando a propaganda política contava com impressionantes 2 horas e 30 minutos, Ulysses Guimarães tinha o maior tempo entre os candidatos: 22 minutos diários. Ficou em sétimo, com 4,73% dos votos. Lula e Collor, que foram ao segundo turno, tinham 10 minutos cada.

Assim como em 2018, isso é o que costuma acontecer em eleições “atípicas”. A de agora, por outro lado, dá sinais de acomodação.

Antes outsider, Bolsonaro vestiu o figurino de candidato clássico. Hoje, está em um partido tradicional e formou uma coalização que lhe garantiu o segundo maior tempo de TV. Além disso, os dois líderes isolados nas pesquisas já foram presidentes. Há pouco espaço para novidades.

Antonio Lavareda, sociólogo e presidente do Conselho Científico do Ipespe, deu uma rica entrevista a Ricardo Noblat no Metrópoles. Nela, estabelece três pontos que podem servir de bússola para o que pode acontecer no País nas próximas semanas:

  • “[…] são 43% os eleitores brasileiros que dizem que a TV é sua principal fonte de informação sobre política. Perto da soma dos que apontam as redes sociais (24%) e os que mencionaram portais, blogs e sites (23%). Estamos falando de cerca de 67 milhões de eleitores.”
  • “Nos Estados Unidos, berço da internet, das redes sociais e também do marketing eleitoral, está ocorrendo a campanha de “midterms”, as intermediárias, neste ano. […] Nelas, o dispêndio com propaganda na TV será quatro vezes e meio maior do que todo gasto com digital, redes incluídas. Será que eles estão jogando dinheiro fora?”
  • “Por último, recordo que, […] o contingente de seguidores de Joe Biden nas redes sociais equivalia a apenas cerca de dez por cento do de Donald Trump, seu adversário. Não obstante, como sabemos, o democrata derrotou o incumbente.”

Isso quer dizer que redes terão efeito reduzido na eleição deste ano e o tempo de TV deve mudar o resultado do pleito?

A resposta é não.

O que essas informações apontam é que a política, enfim, deve chegar a um momento de maior integração entre as tecnologias, seja a TV, o rádio, a internet e qualquer uma das plataformas digitais. Algo que já tinha sido incorporado pelos candidatos que se saíram melhor em 2018.

As redes funcionam melhor para eleitores já convencidos do voto. Os perfis oficiais dos candidatos são um espaço para reforçar opiniões, combinar estratégias e recolher argumentos para as rodas de conversa, digitais ou face a face. Também são instrumentais para os mais desconhecidos identificarem tendências e levarem suas propostas de forma segmentada a grupos que tendem a uma maior convergência com as bandeiras que defendem.

O que observei nos primeiros dias de horário eleitoral foram propagandas que, de forma geral, têm isso em mente. É fácil achar ali material compartilhável, curto e de fácil entendimento, conteúdo que está se desdobrando em stories e Reels para o Instagram, vídeos do Tik Tok e correntes de Whatsapp e Telegram.

Candidatos aproveitam a audiência incidental e reforçam o convite para que quem assiste os siga nas redes e procure seus nomes no Google, canais onde terão mais espaço e formatos para apresentar suas ideias. E, claro, há quem, numa face mais radical desse pensamento, procura se tornar meme para viralizar fora da TV.

A TV continua fundamental, mas se usada de forma integrada e em sinergia com o mundo digital. O horário eleitoral morreu. Vida longa ao horário eleitoral!

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