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10 de janeiro de 2023
Após onda de globalização, uma primavera se avizinha, com destaque para agências que unem criatividade, dados e eficiência em mídia à independência para tomar decisões importantes localmente
No final dos anos 1980, com o colapso dos países que estavam sob a órbita da União Soviética, o termo globalização ganhou novos patamares, uma vez que a polarização da Guerra Fria caminhava para o fim. A revolução digital e o fácil acesso aos meios de comunicação, que praticamente conectaram todos os países entre si, também contribuíram para o processo e consolidou novas formas de negócios e empresas, permitindo que um mesmo produto disponível nas prateleiras europeias estivesse também no extremo Oriente ou na América Latina e África.
Ao mesmo tempo que toda essa movimentação é responsável por uma normalização e padronização global, é importante destacar que foi com o intenso fluxo de captação de dados — e, consequentemente, o entendimento mais detalhado do comportamento dos consumidores —, a troca de conhecimentos e a inquietação humana para criar, reinventar e empreender que foram abertos caminhos para o desenvolvimento de iniciativas independentes, que nasceram como soluções de problemas locais e caminham ou já se estabeleceram internacionalmente.
Seguindo essa mesma tendência, o mercado brasileiro da propaganda viveu uma era em que grandes grupos publicitários internacionais adquiriram em partes ou totalmente agências ícones da nossa cultura de comunicação. Foram elas que ditaram o ritmo dos negócios, modelos de criação, planejamento e visão de mídia recentes.
Mas se o alinhamento traz ganhos relevantes para toda a cadeia, a inquietação que move o mercado nacional segue pulsando nos corações e mentes. Não à toa, uma primavera se avizinha para trazer uma nova leva de independentes, que propõem ao segmento uma visão de inovação e propósito, temperada pela criatividade única dos nossos profissionais. Marcas como Soko, Suno United, Tech and Soul, Dark Kitchen, Artplan e Galeria se destacam —conquistando prêmios, reconhecimento e clientes —, a partir de um modelo de negócio que busca revalorizar a forma brasileira de as marcas se comunicarem, unindo a tríade criatividade, dados e eficiência em mídia e independência para tomar decisões de forma rápida e alinhada com as necessidades locais dos clientes.
Avançando para outros setores da economia, essa mesma visão de independência e reconhecimento nacional acaba por gerar oportunidades para que as marcas brasileiras naveguem no mercado internacional, consolidando produtos e serviços para além das nossas fronteiras. Um dos casos emblemáticos dessa atuação é a Natura, que a despeito da concorrência de players internacionais, segue levando a cosmética brasileira para mais de 100 milhões de consumidores de diferentes países. Trata-se de uma independência não só operacional, mas essencialmente na criação e difusão da identidade verde-amarela. Para se ter uma ideia, a empresa é pioneira na América Latina com uma perfumista exclusiva, que tem à sua disposição um laboratório com 2,5 mil aromas diferentes e mais de 20 óleos essenciais exclusivos, provenientes da biodiversidade nacional.
Veja, não advogo aqui pela determinação de que um modelo independente deve se sobrepor aos grandes conglomerados internacionais. Como empreendedor, executivo e profissional, vivi o mercado em todas as suas facetas e sou capaz de destrinchar inúmeros pontos positivos e negativos que contribuem para o momento que vivemos. Mas se agora posso empunhar o estandarte da liberdade que só a independência pode oferecer, afirmo que apenas o conhecimento profundo das nuances e particularidades brasileiras, unido à aplicação do que forma a vanguarda da inovação no mercado internacional, é capaz de nos impulsionar para além dos nossos sonhos.
Exemplos como esse mostram que existe sim um jeito brasileiro de se fazer negócios e que com uma ambição bem planejada, visão correta sobre oportunidades de negócios, investimento em tecnologia e inovação, sempre permitirão a um empreendedor, não importa sua nacionalidade, a habilidade de competir com alguma vantagem, com grandes conglomerados internacionais, obtendo sucesso, ganhando mercado e reconhecimento desde seu primeiro ano de vida. Afinal, o limite para a criação e a inovação existe apenas até algo novo ser inventado. E para se inventar algo é preciso liberdade para arriscar.
Mas se engana quem pensa que esta é uma tendência consolidada. A marcha dos independentes ainda está longe de ser dominante no imenso universo dos negócios. O fato é que a jornada da independência é uma aventura com muitos riscos e algumas conquistas. Sabe-se, porém, que nesta trajetória uma coisa pode ser dada como certa: ganham os clientes e ganha o mercado.
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