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3 de novembro de 2022
A internet não é acessível, e isso é um problema para uma em cada cinco pessoas
Como muita gente, gosto de ler as notícias logo pela manhã. Depois que minha esposa e eu preparamos o café da manhã, abrimos nossos telefones e ficamos em dia com as últimas manchetes. Mas, quando ela termina de ler um artigo, eu ainda estou no meio do terceiro parágrafo. Minha esposa gosta de ler com os olhos, enquanto eu, que tenho dislexia, prefiro ler com os ouvidos — opção que nem sempre é oferecida como forma de acessibilidade ao conteúdo escrito.
Esta é a minha realidade – e a realidade de todos aqueles que têm dificuldades de aprendizagem, como dislexia e TDAH. Vivemos em uma sociedade com tecnologia e opções aparentemente ilimitadas, mas 98% dos sites mais visitados do mundo não desenvolveram uma experiência totalmente acessível para pessoas com deficiências de aprendizado ou deficiência visual/ auditiva.
Quando os principais sites de notícias não oferecem opções simples de conversão de texto em áudio, tornam muito mais difícil para pessoas como eu usar seus produtos. Também tornam muito mais provável que alguém com dificuldades de aprendizagem — uma em cada cinco pessoas — busque alternativas, recorrendo a produtos dos concorrentes.
E não são apenas as empresas privadas e os principais meios de comunicação que estão deixando a desejar no quesito acessibilidade. Um estudo da Information Technology and Innovation Foundation (Fundação de Tecnologia da Informação e Inovação) descobriu que 30% dos sites governamentais (nos EUA) não atendiam aos padrões de acessibilidade.
Já é ruim o suficiente sofrer para ler um artigo de jornal. Quando importantes sites governamentais negligenciam esse aspecto, a sociedade corre o risco de isolar uma parcela inteira da população. Como podemos esperar que as pessoas sejam cidadãos bem-informados se não tiverem acesso igualitário às notícias e aos serviços do governo?
Enquanto empresas e governos continuarem a ignorar as necessidades daqueles que aprendem de forma diferente, eles não apenas dificultarão a vida de uma parcela significativa da população, como também perderão um mercado importante.
A razão pela qual os sites são tão descuidados quando o assunto é acessibilidade se deve em parte ao desemprego crônico de pessoas com deficiência. De acordo com o Departamento do Trabalho norte-americano, a taxa de desemprego das pessoas com deficiência é mais do que o dobro da de seus pares.
É simples: se o processo de contratação de designers de sites deixar de fora pessoas com deficiências, é mais provável que essas páginas sejam desenvolvidas sem levar em conta a experiência de uma pessoa com deficiências ou neurodivergente.
Como cofundador de uma organização sem fins lucrativos, a Eye to Eye, que reúne as experiências vividas por jovens neurodivergentes para melhorar o sistema escolar, vi em primeira mão o que pode acontecer quando damos a eles a chance de usar suas habilidades e sua voz. Vi como passam a levar suas experiências ao mundo dos negócios.
Jesse Sanchez, ex-voluntário na Eye to Eye, é um exemplo. Como um jovem neurodivergente, Jesse liderou um movimento para criar mudanças positivas nas escolas, de modo que a educação se tornasse mais acessível para jovens como ele. Hoje trabalhando na HR tech Culture Amp, continua contando sua história com orgulho e apoiando o fortalecimento da empresa na inclusão de pessoas neurodivergentes.
Acessibilidade e inclusão não apenas melhoram a vida das pessoas com deficiência, mas também podem melhorar drasticamente os resultados de uma empresa. Além de um em cada cinco norte-americanos possuir alguma deficiência de aprendizagem, o Departamento do Trabalho aponta que há aproximadamente 33 milhões de pessoas com deficiência e em idade de trabalhar nos EUA, mas apenas 18,5 milhões estão empregadas.
De acordo com um relatório da Accenture, o PIB do país poderia aumentar em até US$ 25 milhões se apenas 1% desse grupo ingressasse na força de trabalho.
A boa notícia é que algumas empresas estão tomando medidas para se tornarem mais inclusivas, como a IBM. Mas, quando grande parte da internet ainda está inacessível, fica claro que ações decisivas precisam ser tomadas muito mais rapidamente.
A contratação desses trabalhadores é ótima para a economia e a criatividade e acessibilidade que eles trazem para uma empresa podem expandir ainda mais o público que ela alcança. Basta pensar em quantas pessoas com dislexia poderiam retornar às publicações, caso abrissem portas para elas.
Para empresas e organizações ainda não equipadas para integrar designers que aprendem de forma diferente, existem recursos para ajudar. A Contentsquare Foundation, por exemplo, oferece treinamento gratuito de Noções Básicas de Acessibilidade Digital, além de um manual com dicas e explicações sobre os primeiros passos para pessoas ou empresas que desejam iniciar uma jornada de acessibilidade digital.
Ler um artigo de manhã não deveria ser uma tarefa tão árdua para mim, nem para tantas outras pessoas. Estamos em 2022. Vamos trazer logo a acessibilidade digital à internet. Não podemos mais esperar.
Confira matéria no Fast Company
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