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A próxima revolução será criativa

Fonte: Meio&Mensagem

17 de maio de 2023

As empresas irão valorizar profissionais com maior repertório cultural e capacidade de solucionar diferentes situações

Quando o sociólogo italiano Domenico De Masi lançou o livro “O Ócio Criativo” há mais de 20 anos, estávamos todos maravilhados e ao mesmo tempo intrigados e desconfiados com o universo de possibilidades que a popularização da internet e de um mundo enfim conectado poderia proporcionar. A revolução tecnológica mirava o universo do trabalho, educação, consumo, entretenimento, economia, política e o comportamento humano e as relações sociais de forma geral. E de fato desde então tudo isso se transformou.

É possível que o frenesi tecnológico do início dos anos 2000, e no qual a sociedade mergulhou e se aprofundou ainda mais – e isso segue acontecendo até hoje -, tenha deixado um pouco de lado os fundamentos da obra de De Masi. Afinal, um conceito de intersecção entre trabalho, estudo e lazer, em um momento de ebulição tecnológica e com um admirável mundo novo pela frente, poderia soar para muitos como mais uma obra de ficção científica.

O sociólogo indicava que na sociedade pós-industrial, onde nos encontramos hoje, com maior “produção” de informação, serviços, símbolos, valores e estética, cerca de 70% dos profissionais do mundo executam um trabalho prioritariamente intelectual. Esse tipo de atividade favorece a conciliação no dia a dia com o estudo, o lazer e a diversão por parte de cada indivíduo, transformando-se assim em ócio criativo: com o trabalho criamos a riqueza; com o estudo adquirimos conhecimento; e com o lazer e a diversão desenvolvemos a alegria e o bem-estar.

Agora, acompanhando toda a discussão sobre inteligência artificial, resgatei o “Ócio Criativo” e venho refletindo nas mudanças que nos aguardam nas associações entre empresas e pessoas. Penso que com a IA, o indivíduo vai ser poupado de trabalho em atividades nas quais a mente humana agrega pouco valor. Isso, junto com a flexibilidade do trabalho remoto ou híbrido, vai remodelar a relação do ser humano com a criatividade. As pessoas terão mais tempo para estudar, consumir arte, música, teatro e, consequentemente, estabelecer novos pactos e práticas de socialização. Nesse sentido, as empresas irão valorizar profissionais com maior repertório cultural e maior capacidade de solucionarem as diferentes situações.

É claro que essa nova relação não vai acontecer de uma hora para outra, mas é um processo que já está começando. Antes desta fase se massificar e consolidar, será preciso que uma parcela extremamente significativa dos profissionais passe por processos de requalificação.

De acordo com o relatório “Future of Jobs 2023”*, publicado no começo deste mês de maio pelo Fórum Econômico Mundial, seis em cada dez pessoas vão precisar de treinamento até 2027 para seguirem ativas na economia digital. Mais de 40% das habilidades individuais de trabalhadores de qualquer área precisarão ser atualizadas. Inclusive, na pesquisa realizada com 803 empresas para a formação desse report, as companhias relataram que as prioridades para o treinamento de habilidades até 2027 são, na ordem, o pensamento analítico e o pensamento criativo, sendo que o fator criativo vem crescendo em importância em relação ao analítico.

Sim, pelo relatório entende-se que a criatividade é algo que pode ser treinado, ensinado, exercitado. E o principal equipamento para a prática desse exercício está justamente nos pilares que sustentam o conceito do ócio criativo: trabalho, estudo e lazer. As pessoas serão mais valorizadas por serem mais criativas. Depois da revolução Industrial e a Tecnológica, viveremos a revolução Criativa.

*”Future of Jobs 2023”, World Economic Forum

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