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29 de novembro de 2023
O debate sobre trabalhar de forma remota, híbrida ou presencial é possível para apenas 11% dos trabalhadores brasileiros, correspondentes a 8,2 milhões de profissionais. Essa é a parcela da população que trabalhou remotamente entre maio e novembro de 2020, meses mais críticos da pandemia, ou que continuaram a trabalhar fora do seu ambiente físico. Em termos absolutos, portanto, tal conversa parece fazer pouco sentido. Mas o fato é que afeta, sim, a todos em médio e longo prazo, porque tem ramificações sociais mais amplas. E quem participa deste debate agora impactará o futuro, de alguma forma.
“Estamos em um momento de transição. Precisamos entender como esses 11% de trabalhadores que participam dessa discussão impactarão os 100% e como vamos usar esse debate para melhorar nossos processos internos e mudar as condições de trabalho. E isso passa por um treinamento muito específico com as lideranças”, diz Mafoane Odara (ex-Meta), executiva de recursos humanos e conselheira e atual diretora de pessoas, cultura e transformação da Zamp, que é a controladora do Burger King e da Popeyes no Brasil.
A pandemia exigiu novas habilidades das lideranças, como construção de confiança, diálogo sobre autonomia e liberdade e desenvolvimento pessoal, explica Mafoane. São essas habilidades que as empresas precisam agora para dar conta de modelos flexíveis de trabalho.
Em 2019, no Brasil, segundo o Instituto de Brasileiro de Pesquisa e Estatística (IBGE), apenas 5,2% da população estava empregada em regime de home office. De lá para cá, no entanto, as coisas mudaram.
A pandemia veio e novas relações e modelos de trabalho se estabeleceram. Os trabalhadores entenderam que é possível desempenhar suas funções de outra maneira e desejam que o trabalho se encaixe em suas vidas, e não o contrário. Mesmo nos momentos mais amenos do período pandêmico, parecia razoável que o modelo flexível de trabalho se estabeleceria.
Mas, no quarto ano após o surgimento da Covid-19, o contexto é outro. Companhias que adotaram regimes flexíveis, mesmo as de tecnologia, convocaram, gradativamente, seus funcionários para voltarem a trabalhar mais dias presencialmente, quando não toda a semana. Vagas remotas estão mais raras e profissionais relatam que não morar na mesma cidade em que se localiza o escritório parece ser fator eliminatório nos processos seletivos de algumas companhias que, teoricamente, aceitam o trabalho híbrido.
Elon Musk, do X,, BlackRock, Amazon, Apple, Meta, Google e Disney são exemplos de lideranças e empresas globais à frente dessas exigências. Por outro lado, os profissionais não estão satisfeitos e alguns episódios têm mostrado a dificuldade das empresas em tentar convencer os colaboradores a abandonar o home office depois de três anos.
O Brasil acompanha essa tendência. Segundo estudo recente da Mercer Brasil, 61% das áreas de recursos humanos do País dizem que os gestores não aceitam bem os modelos flexíveis de trabalho. Este ano, estudo da plataforma de empregos Infojobs indicou que o trabalho presencial representa 94,8% das ofertas de empregos no Brasil. Já o trabalho totalmente remoto, apenas 2,7% dessas vagas e oportunidades híbridas respondem por 2,48%.
Para alguns gestores, está claro que a qualidade de vida é fator determinante para reter talentos. “Durante a pandemia, entendemos que esse modelo mais flexível, levando em conta o perfil do colaborador e a natureza da função, veio para ficar. Queremos incluir e reter. Portanto, investimos para que as lideranças criem relações pessoais com os colaboradores e achem para o seu time o modelo de trabalho que funciona melhor”, explica a diretora-executiva de sustentabilidade, segurança, saúde e meio-ambiente da Bayer na América Latina, Paula Castro. Na empresa, os funcionários podem optar por quantos e quais dias da semana comparecem à empresa. Esse modelo flexível, que coloca a relação de trabalho entre lideranças e o time no centro das decisões, parece ser tendência em outras companhias.
A Natura opera de forma semelhante. Funcionários administrativos têm de ir três vezes por semana para a empresa, mas também podem escolher em quais dias trabalharão em casa e no escritório. Poder escolher os dias é importante para que se sinta mais satisfeito, mas a volta para o trabalho presencial não foi fácil, admite a diretora de recursos humanos e business partner da Natura &Co, Natali Lima. “Para nós, é muito importante que a cultura da empresa seja assimilada e é quase impossível fazer isso com todo mundo em casa o tempo todo. A nossa cultura é das relações pessoais, do cafezinho”, diz a executiva.
A lógica do sucesso do home office para os trabalhadores é óbvia: traz vários benefícios, sobretudo em relação à economia de tempo, dinheiro e locomoção. O ambiente de casa também é apontado por muitas pessoas como a melhor forma para executar determinadas tarefas, como as que demandam concentração.
Ao ver essas transformações e levar em consideração os trabalhadores mais jovens, que chegam com outras demandas a um mundo do trabalho já impactado pela tecnologia e pela pandemia, a Eletromidia investiu em consultoria externa para formar a nova cultura da empresa, segundo a qual o escritório é mais atrativo quando os funcionários ficam mais livres para decidiram quando e se irão trabalhar presencialmente. A empresa mudou muito nos últimos anos. Abriu o capital e incorporou outras companhias. Por isso, está na fase de criar cultura e modelo de trabalho totalmente novos, o que favorece relações corporativas mais adequadas ao tempo presente.
“Encaramos nossos colaboradores como adultos inteligentes. Se quiserem vir ao escritório, vão encontrar um lugar bom de se estar. Oferecemos atividades que os satisfaçam. Mas não vamos obrigar um colaborador a se matar em um dia de chuva em São Paulo para estar aqui. Se o escritório estiver vazio, está tudo bem. Mas, se ele quer vir, queremos garantir que tudo o que precisa esteja acessível”, afirma a diretora de gente e gestão da empresa, Laura Bueno Lindenberg.
Dentre os benefícios que a Eletromidia oferece estão estacionamento, alimentação e ambiente de trabalho adequado. A lista não é pequena e é totalmente um compromisso da empresa. “Damos autonomia, mas cobramos responsabilidade”, ressalta Laura.
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