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30 de outubro de 2023
Não se trata de um fenômeno recente. Mas, cada vez mais, as agências de publicidade se desvinculam de uma só forma de remuneração. No mercado brasileiro, o modelo está em curso e não contempla mais apenas as comissões de mídia e incentivos (BVs) concedidas pelos veículos de comunicação. Apesar de ainda ser preponderante na composição de receitas, a mídia passou a conviver com fees, sucess fees, consultorias, elaboração de projetos, desenvolvimento de produtos, performance e, por exemplo, estúdios para viabilizar ações de branded content e até produção audiovisual.
A diversificação do portfólio não infringe o molde do país para as relações comerciais do trade de publicidade: agências, anunciantes, canais e produtoras de conteúdo. A gestão de todas essas disciplinas fica nas estruturas das agências, que utilizam a criatividade e ideias como fios condutores da gestão da comunicação mercadológica das marcas, dos produtos e dos serviços. Fora do Brasil, salvo exceções, a mídia é um negócio à parte da criatividade. No Brasil, a estratégia é concomitante com o desenvolvimento de uma ação e muitas vezes os profissionais dessa área são os protagonistas.
O viés brasileiro não contempla as empresas de mídia, os bureaus, comuns nos grandes grupos de comunicação. O conceito original dessas unidades evoluiu bastante e passou a agregar valor com expertises capazes de orientar melhor os procedimentos de uma campanha e torná-la mais eficaz na interação com os consumidores. Ou seja, os bureaus não são apenas uma operação meramente financeira. Mas a ideia criativa é um asset e as agências mantêm e usam esse skill como sua grande fortaleza.
O guardião desse modelo no Brasil é o Cenp (Fórum da Autorregulação do Mercado Publicitário), que tem estatuto detalhado para todas as remunerações, com o objetivo de dar transparência às relações comerciais, que é fundamental para a comprovação de ROI (Retorno sobre Investimento), muito mais exigido nessa era marcada por dados precisos e de cobrança dos acionistas das empresas por retorno para o fomento dos seus negócios. E também de margens financeiras mais reduzidas.
Foi-se o tempo da remuneração das agências com comissão de 20% atrelada à compra de mídia e dos 15% sobre o valor investido nas produções, pago pelas produtoras. Dessa forma, a situação finaneira do negócio da propaganda era muito mais confortável. Se as margens estão mais enxutas, porém, segundo expressões de especialistas, a busca pela criatividade adequada aos planejamentos de ações ficou mais evidente.
O monitoramento do Cenp-Meios, com base nos valores das PIs (Pedidos de Inserção nos canais), mostra que em 2022 as agências que integram a amostra movimentaram R$ 21,2 bilhões em mídia. Em 2021, o valor foi de R$ 19,7 bilhões.
Os grandes festivais globais de publicidade do segmento, como Cannes Lions, Clio, Festival de Nova York, Dubai Lynx, Golden Drum, El Ojo, Fiap e D&AD, só para citar alguns, passaram a enxergar a criatividade em todas as áreas que envolvem a publicidade. Se anteriormente ela ficava concentrada no conteúdo dos filmes e anúncios impressos, agora a visão é holística, da mídia ao live marketing, da performance ao branded content, do commerce ao direct, do PR ao craft.
O propmark ouviu executivos de agências com o propósito de compreender como se estabelece a composição de receitas. O resultado é surpreendente, mesmo não sendo mais uma grande novidade contemplar serviços especializados no blend financeiro. Confira os depoimentos a seguir.
“A remuneração de mídia e bonificação ainda é a maior parte da receita nas grandes agências, as líderes do ranking. Ainda vemos um mercado muito atrelado a esse tipo de remuneração. Na Gana, como uma agência pequena e independente, temos uma dependência menor dessa receita de mídia. Nós estabelecemos outros tipos de remuneração mais alinhados ao nosso modelo de negócio e aos nossos clientes. Assim, conseguimos crescer e ainda atuar com o foco em soluções criativas potentes, atreladas ao Brasil real. Nós pensamos as formas de remuneração sempre dentro daquilo que mais atende cada cliente e cada projeto. Por exemplo, temos: fee, na maioria das vezes calculado com base na equipe dedicada ao cliente/hora homem, que é a maior parte da nossa receita; projetos: somos muito acionados para alguns jobs que não são contratos de longo prazo, mas projetos com data de entrega e escopo definidos. Assim, cobramos com equipe dedicada, tempo do projeto, recursos. Sucess fee: cada vez mais passa a fazer parte da receita. Importante tipo de remuneração, a agência participa do resultado, se torna corresponsável pelo atingimento das metas. Como acreditamos muito no nosso trabalho em conectar marcas com o brasileiro de verdade, acreditamos muito em gerar resultados. Aqui na Gana, o nosso percentual em 2023 está girando em fee: 77%; projetos: 16%; consultorias: 4%; e mídia: 3%. É um ano de muito desafio. Estamos ainda buscando e fazendo projetos e outros jobs. Mas podemos já dizer que a previsão de crescimento é de 18%” Felipe Silva, fundador, sócio e CCO da Gana
“As agências sempre tiveram diversos modelos de remuneração, além da comissão sobre o investimento de mídia. O mercado e contexto de comunicação atual exige mudança e adaptação constante. Então, com o aumento das disciplinas necessárias para entrega de diversos novos serviços e produtos, que vão muito além da mídia, como por exemplo conteúdo e dados, entre outros, os modelos de remuneração evoluíram para fee, sucess fee e por projeto também. Estamos evoluindo e nos transformando todos os dias. As agências são fundamentalmente remuneradas pelo escopo de trabalho que devem entregar para cada marca/cliente. No passado, quando havia basicamente quatro meios (TV, revista/jornal, rádio e outdoor), a remuneração sobre a comissão de mídia era efetiva, porque remunerava os profissionais necessários para a entrega, que era menos complexa e exigia um menor número de profissionais especialistas, porque tínhamos menos departamentos/especialidades dentro das agências. Atualmente, como a entrega ganhou novas frentes, diversos meios e canais, além de novas tecnologias, tivemos de dobrar o número de profissionais somente na área de mídia (sem contar a abertura de novos departamentos). Por isso, fez-se necessário também evoluir a forma de remuneração, que pode ser ainda por comissão sobre o investimento de mídia, mas também através de fee, sucess fee ou por projeto, com escopo e estruturas predefinidas e acordadas entre as partes. São escopos e remunerações modeladas caso a caso, a partir da demanda e escopo de cada cliente. Por uma diretriz estratégica global, não podemos abrir dados, mas em um cenário fragmentado como o que vivemos hoje, cada cliente e cada projeto tem um modelo personalizado e esse percentual varia bastante todos os anos. Dado o aumento da complexidade dos trabalhos realizados pelas agências, as margens estão cada vez mais desafiadoras. Mas sempre trabalhamos dentro dos parâmetros necessários para que a empresa tenha a rentabilidade mínima necessária para operarmos de forma saudável e, principalmente, sustentável” Marcia Esteves, sócia e CEO da Lew’Lara\TBWA
“Existem estratégias e modelos diferentes, mas na Wunderman Thompson a mídia não é nem a única nem a principal forma de remuneração. O modelo de remuneração baseado em mídia fez muito sentido por bastante tempo e criou no Brasil um mercado com um nível de excelência altíssimo. Faz bastante tempo, no entanto, que o perfil do trabalho mudou e foi necessário desenvolver modelos de remuneração que melhor alinhassem agência e cliente. Trabalhamos com remuneração baseada em veiculação, fee para equipes dedicadas, revenue share e sucess fee. Cada contrato é desenhado buscando alinhar os incentivos e interesses da agência e seus clientes e, mais do que a participação das formas de remuneração na receita da agência, olhamos a saúde de cada contrato. A maior parte da receita vem de fees, mas não acompanhamos os resultados dessa maneira. Olhamos o resultado total da agência e por cliente, somando todos os modelos de remuneração. No começo do ano, tivemos de reduzir custos para que terminássemos 2023 dentro da nossa meta de rentabilidade. Não posso abrir o número exato, mas o negócio está saudável!” Pedro Reiss, CEO da Wunderman Thompson
Confira matéria no Propmark
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