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31 de agosto de 2023
A pandemia de Covid-19 teve um papel importante nas mudanças dos formatos de trabalho e as empresas precisaram se reestruturar para agregar o trabalho remoto, o híbrido e até a jornada de trabalho reduzida.
No trabalho remoto, o profissional pode trabalhar fora do escritório tradicional e realizar as tarefas de qualquer lugar com acesso à internet. Isso traz flexibilidade em termos de localização e horário, menos tempo gasto em deslocamento e, muitas vezes, uma melhora na qualidade de vida.
De acordo com a especialista em comportamento no ambiente de trabalho, Samantha Boehs, as empresas entenderam que o trabalho remoto diminui o custo de operações para manter o empregado. Contudo, ela ressalta ser necessário ter o perfil para trabalhar assim.
Mariana Fonseca de Souza é designer, mora em Curitiba, e trabalha há quase dois anos na área de inovação de uma empresa sede em São Paulo. Além do emprego, o processo de seleção e a contratação foram feitos de forma remota.
Ela conta que criou ferramentas para se adaptar ao novo formato, principalmente a necessidade de interagir com outras pessoas. Todos os dias, ela se desloca até uma cafeteria, toma café e trabalha de lá.
“Eu interajo com o pessoal do café, então tem sido mais saudável para mim. O restante do dia volto para casa, fico trabalhando aqui de casa até encerrar o expediente”, disse
A designer trabalha oito horas por dia e tem uma hora de intervalo para almoço. Ela compartilhou que visita a sede da empresa algumas vezes por ano em reuniões presenciais ou eventos especiais.
Na avaliação dela, o home office é bom para o mercado de trabalho.
“As empresas conseguem sair da capital, da contratação, e vão para o interior, outras cidades do Brasil. Na minha área está muito aquecido o mercado, então é difícil encontrar profissionais concentrados em São Paulo”, diz.
Mariana conta que também pode viajar e trabalhar de diferentes lugares do mundo.
O gerente executivo de Tecnologia, Inovação e Responsabilidade Social do Sistema Fiep, Fabrício Lopes, ressalta que os novos formatos de trabalho também permitem que o funcionário esteja no Brasil e atue para empresas de fora do país.
“Aqui em Curitiba temos muitas pessoas da área de T.I que estão sendo contratadas por empresas americanas, ganhando em dólar, e continuam morando em Curitiba”, explica.
O trabalho híbrido combina o expediente no escritório com o modelo remoto, onde os funcionários têm a flexibilidade de escolher quando e onde trabalhar.
O formato permite que as empresas otimizem o ambiente de trabalho de acordo com as necessidades individuais, podendo manter a cultura do escritório e reconhecer os benefícios do trabalho remoto.
O analista de comunicação interna Leonardo Carvalho Bueno Mordhost começou a trabalhar com um grupo educacional de forma remota, da própria casa.
Com o fim das restrições da pandemia, a empresa adotou o formato híbrido. Agora, ele passa alguns dias em casa e outros no escritório.
Leonardo conta que, no início, foi muito difícil se adaptar, porque gosta de se relacionar com outras pessoas, ainda mais trabalhando com comunicação.
“Eu não conhecia efetivamente quem eram as pessoas com as quais eu me comunicava diariamente. No presencial a gente também acaba tendo muitos ganhos em relação à urgência: ‘Ah, vou descer num andar ali que eu preciso de uma resposta’. No digital, talvez, só consegue a resposta quando ela ver minha mensagem ou quando ela tem um tempo”, relata.
Como é na prática
Na segunda e na sexta-feira, Leonardo trabalha em casa. De terça à quinta-feira, vai até a empresa – na maioria das vezes de ônibus ou carro de aplicativo.
Ele conta que, quando realiza o trabalho presencialmente, precisa acordar uma hora mais cedo para não perder o horário.
O grupo educacional onde Leonardo trabalha tem sete mil trabalhadores em várias cidades do Brasil, sendo dois mil no formato híbrido.
O diretor de pessoas e cultura do grupo, Leandro Figueira, diz que foi muito difícil adaptar as pessoas ao modelo que não permite uma conversa “olho no olho”.
“A gente adotando esse modelo foi muito na perspectiva de fazer essa leitura de mercado, na questão de atrair pessoas, reter pessoas”, completou.
De acordo com o diretor, as reuniões passaram a ser limitadas a 50 minutos e as mudanças geraram economia para o grupo, como encerrar o aluguel de um prédio inteiro e economia de energia elétrica.
Uma nova possibilidade de trabalho que já começou a ser adotada em vários lugares do mundo é a redução dos dias de trabalho semanais, de cinco para quatro, mantendo o mesmo salário dos funcionários.
A estratégia busca melhorar a qualidade de vida dos empregados, reduzir o estresse e promover um melhor equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Por outro lado, pode ser necessário ajustar a carga de trabalho para garantir o cumprimento das metas.
Uma agência de marketing digital de Curitiba adota o modelo de trabalho de quatro dias na semana. Segundo o diretor, Jeferson Dellara, a mudança foi testada por 30 dias e, há mais de um ano, virou uma prática definitiva.
“Acredito que para o time foi até um pouco assustador no começo, porque acho que até eles ficaram meio assim: ‘Será que a gente vai dar conta?’, porque a gente estava tirando um dia deles e cobrando por quatro. Só que acho que o time mesmo se entregou tanto nesse projeto que não teve nenhuma redução, não temos, não tivemos problemas com a entrega”, afirma.
Oito pessoas trabalham na agência. Um grupo trabalha de segunda a quinta e outro de terça a sexta.
Letícia Grein é uma das funcionárias e ressalta ser preciso organização para não sobrecarregar o colega de trabalho. Ela conta que deixa a pauta dela pronta e o colega faz a mesma coisa quando ela não está presente.
“A gente foi se adaptando, foi se ajudando. E, como é um benefício, a gente trouxe como uma coisa muito positiva para o nosso dia a dia. Então, isso foi motivando a gente a se organizar melhor, a trabalhar melhor quando a gente estiver aqui”, completou.
Uma pesquisa realizada no Reino Unido avaliou os resultados da adoção da semana de trabalho de quatro dias. Os estudos analisaram 61 empresas e 2,9 mil trabalhadores.
Foram dois meses de preparação das organizações, que tinham que reduzir a jornada semanal para quatro dias de trabalho sem nenhuma alteração dos salários.
Depois da experiência, a maioria das empresas afirmou que vai continuar a política de redução de carga horária semanal, sendo que 18 farão de forma definitiva.
O número de funcionários que pediu a conta caiu 57% no período do teste.
Segundo a pesquisa, 39% dos trabalhadores disseram que ficaram menos estressados, além de relatarem redução de ansiedade, cansaço e problemas para dormir. A saúde física e mental dos colaboradores melhorou, cita o estudo.
Para 54% dos trabalhadores, ficou mais fácil equilibrar o trabalho com as tarefas domésticas. A mudança na rotina de trabalho deixou mais fácil a conciliação da vida profissional com a pessoal para 62% dos participantes.
Os impactos também foram positivos para as empresas, segundo o estudo. A receita ficou estável no período do experimento, comparando com períodos semelhantes de anos anteriores. Houve um aumento médio de 35% nas receitas.
Jack Kellam, pesquisador da Autonom, disse que foi possível ver que os gerentes sentiram que a produtividade dos funcionários permaneceu a mesma.
“O volume de negócios também foi semelhante ou melhorou. Então, foi uma vitória para os trabalhadores e para as empresas também”, afirma.
Apesar do estudo e das vantagens comprovadas, Samantha Boehs acredita que é preciso mudar a cultura das empresas para a prática ser adotada em larga escala no Brasil.
Samantha diz que a principal vantagem da redução da jornada semanal é a qualidade de vida do trabalhador, que pode ter mais tempo para fazer outras atividades.
Por outro lado, ela ressalta que o controle de metas e de desempenho tem que acontecer da mesma forma ou até de modo mais estruturado.
“Eu não acredito que, por enquanto, no Brasil, isso vai pegar, porque ainda no nosso país a gente tem uma mentalidade de que mais horas é mais resultado, o que é uma falácia”, avalia.
Confira matéria no G1
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