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Às favas com a intuição

Fonte: Meio e Mensagem

30 de maio de 2022

O uso de dados nos ensina a melhorar as coisas à nossa volta de maneira mais certeira e eficiente

A ciência de dados tem evoluído cada vez mais rapidamente e de modo avassalador, tal qual uma revolução, não tão silenciosa assim, da nossa compreensão de mundo. De uns anos pra cá, tornou-se impossível não reparar no tilintar impactante que a Big Data tem na nossa vida. Dos investimentos financeiros ao medicamento mais eficaz, passando por ideais de felicidade, talvez este seja o primeiro momento da história em que cientistas sociais cheguem a conclusões tão precisas.

Afinal, nunca tanta gente esteve conectada à rede, entregando informações e respondendo a perguntas significativas através de suas decisões mais comezinhas – tipo: “Clico neste anúncio da tela ou continuo zapeando pelo feed?”; às vezes, o dilema de milhões.

As marcas mais valiosas do mundo, aliás, definem-se como “data-driven”, ou, em bom português, “movidas a dados”. Não só as escolhas da porta para fora, com foco no consumidor, são embasadas por levantamentos e análises, mas também as prioridades e predileções daquilo que as move internamente, da porta para dentro, sobre os departamentos, os colaboradores, desde o modelo de gestão até a disposição das estações de trabalho pelo escritório; tudo parte de uma investigação detalhada.

Vivemos o fim do achismo. Ou deveríamos vivê-lo. Ainda há quem insista em tomar decisões por feeling, numa espécie de pensamento mágico (consegue visualizar aquele chefe com pinta de bonachão, decretando uma resolução surrealista, enquanto justifica-se com uma piscadela e a sentença: “Vai por mim. Eu sei que essa é a melhor escolha”?).

O avanço cada vez mais sólido de uma realidade movida a dados é também a pá de cal (ou deveria ser) em figuras corporativas individualistas e autocentradas, que respondem aos desafios cotidianos sem saborear os pormenores de cada cenário, mirando apressadas o curto prazo.

Ganha vez a solidez consciente e consistente de carreiras a fim de construir um ethos coletivo de trabalho e valorizar a curiosidade, a organização e, sobretudo, as métricas que não servem só para coletar resultados, mas também gerar dados que problematizem processos, implicando em mudanças reais.

No capítulo final de seu livro Homo Deus (2015), o best-seller israelense Yuval Harari escreve que estamos embarcando em “uma tremenda revolução”, “não vista desde o século 18”. É o que chama de dataísmo: “a fé nos dados”. Se, antes da revolução humanista, as pessoas mais respeitadas e estudadas encontravam respostas a seus impasses por meio da Bíblia, e, a partir do Iluminismo, com Voltaire e John Locke, dominou a visão antropocêntrica, e as grandes decisões passaram a ser guiadas pelos próprios seres humanos – “seguindo sua intuição” ou “consultando um amigo do peito” –, agora, há um novo “dogma científico, que está mudando nosso mundo”, como diz Harari, “e que venera dados”.

Mas calma. Não é porque o dataísmo é a verdade vigente que devemos desconsiderar nossas emoções. Seria ir na contramão de tudo que escrevi até aqui, visto que inclusive a felicidade pode ser encarada como uma ciência de vida, na medida em que é metrificável – e gera dados.

Que o digam os brilhantes economistas britânicos por trás do projeto Mappiness, Susana Mourato e George MacKerron, que já coletaram mais de 3 milhões de dados importantes para explicar a felicidade – entre as conclusões sobre o que deixa as pessoas mais felizes: exercício, jardinagem, sexo, dias ensolarados e proximidade da natureza.

Um estudo recente da McKinsey aponta que até 2025 a maioria dos colaboradores de empresas usará dados para otimizar quase todos os aspectos do seu escopo. Que, antes de chegar lá, mergulhemos na realidade data-driven de cabeça. Preferencialmente, conseguindo entrar em contato com a natureza ou os raios de sol durante o expediente, além de saber conciliar esporte e tempo de qualidade com quem a gente ama. Nos ensinar a evoluir, é para isso que os dados servem, não?

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